domingo, 13 de abril de 2008

TERTÚLIA - ABRIL



Ontem foi dia de Tertúlia. Desta vez o convidado foi Carlos Matos Gomes, que usa o nome de Carlos Vale Ferraz como pseudónimo literário.

Carlos Matos Gomes foi oficial do exército e nas tropas especiais “Comandos” fez várias comissões na Guiné, Angola e Moçambique. Conhecedor das profundezas do universo militar, das motivações dos homens, das suas forças e medos, das relações de poder que se impõem ou estabelecem implícitas ou explicitamente, o aposentado coronel é um estudioso deste tema que continua a ser um tabu cheio de segredos, véus, vénias, continências e muitas incongruências. Publicou, entre outros, os romances Nó Cego, Os Lobos não usam Coleira, e Fala-me de África.

Ontem, ao contrário do que aconteceu nos meses anteriores, esteve pouca gente: apenas oito tertulianos e mais os quatro que estávamos na mesa, incluindo o convidado. Mas, como dizia o Artur, esta foi a tertúlia mais participada. Não sei se foi a mais participada mas foi muito interessante.

O Carlos é um excelente conversador e durante as três horas em que esteve connosco deu-nos a conhecer melhor alguns aspectos daquele mundo onde só os iniciados se conseguem mover. Os leigos - e anti-militaristas, como eu – mesmo quando julgam que estão a perceber os mecanismos e esquemas mentais dos militares, mais não fazem do que tentar decifrar os códigos que se escondem atrás das palavras. Restou-me ouvir e aprender que nós portugueses “...somos pouco dados a guerras. Preferimos o negócio. E somos semíticos, por causa da nossa costela judaica, ou muçulmana.” E também fiquei a saber que os militares se sentem abandonados pelo poder político que por não se reconhecer nos seus guerreiros não lhes dá o valor merecido, usando-os e deitando-os fora.

Foi um prazer.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

PRÓXIMA EDIÇÃO

Com a participação do nosso próximo convidado nas sessões da Tertúlia, o projecto dá mais um passo significativo na sua consolidação. Se até aqui foram apresentados e debatidos trabalhos únicos (uma biografia, uma compilação de crónicas), a obra de Carlos Vale Ferraz, que conta com a publicação de vários títulos, expande-se também ao argumento cinematográfico, abrindo-se desta forma um vasto campo temático de assuntos de possível debate. Para os menos atentos tentarei enumerar a seguir alguns dos temas mais representativos.
1- A Guerra Colonial e a instituição militar.
Em virtude da sua actividade profissional (Oficial do Exército Português), Carlos Vale Ferraz dedica vários livros seus à actividade da guerra, ao modo como os homens nela se comportam ou transfiguram, ou à forma como ela os marcou para uma vida inteira. (“Soldadó”,” ASP de Passo Trocado”,” Os Lobos Não Usam Coleira”)
2- A interminável ligação ao continente africano. A forma como o olhar do nosso inconsciente colectivo, em virtude de 5 séculos de ligação permanente, nunca se fechou, antes se foi transmutando ao longo da História.
3- A Escrita para cinema. A Relação entre o discurso literário e o discurso fílmico.
Na sequência do êxito alcançado pelos seus livros, Carlos Vale Ferraz fez já várias incursões no mundo do cinema. O seu romance Os Lobos não usam Coleira foi adaptado para o filme de António Pedro Vasconcelos OS IMORTAIS. Foi autor do argumento do filme PORTUGAL SA de Ruy Guerra. Colaborou com Maria de Medeiros no argumento do filme CAPITÃES DE ABRIL. É autor do guião da série televisiva REGRESSO A SIZALINDA, baseada no seu mais recente romance, “Fala-me de África”.
4- Literatura Portuguesa.Tem uma posição muito interessante em relação à literatura que se faz em Portugal (ver post anterior sobre o autor) quando opõe os conceitos entre um discurso erudito, exercício de estilo e, por outro lado, aquela literatura narrativa, que conta histórias…

Eis aqui alguns dos possíveis objectos de discussão na próxima tertúlia. Espero sinceramente que possam comparecer, e que gostem do resultado final. Pela nossa parte tudo faremos para que assim seja. Até lá.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O PODER DAS TERTÚLIAS

O Dalai Gama português, o Jaime, por motivos indecifráveis até para os seus correligionários de partido decidiu sair da pacatez de cadeirão resguardado pela dona república e veio a terreiro elogiar o ídolo do povo madeirense, Alberto João. Os mais incrédulos foram os adeptos rosas que vivem na ilha e sabem o que sofrem por não pertencerem à maioria que suporta o poder do soba Jardim. Não vou entrar nesta discussão. Cada um tem os ídolos que pode, que quer, que compra, que aluga, ou que adopta.

Os poderes e as questões à sua volta, têm, sempre tiveram, zonas de sombra onde quem não for iniciado ou conduzido à mão corre o risco de tropeçar ou enganar-se no rumo. As ruelas e becos podem levar a descaminhos. Para guiar os apaniguados pelos caminhos certos existem os santos. Cada partido ou religião tem os seus. Mas para além disso há solidariedades não escritas em letra, como acontece nas seitas, que vêm ao de cima quando menos se espera.

Qual a diferença entre O Dalai Gama, o Jardim ou outro soba que numa qualquer África estende o seu poder muito para lá dos limites da razão e das leis vigentes é uma questão que eu gostaria de perceber. Pode ser que com o tempo descubra. A leitura ajuda.

O último livro de Carlos Vale Ferraz, pseudónimo literário de Carlos Matos Gomes," Fala-me de África", descreve algumas formas de exercício do poder que embora tipificadas em África deambulam secreta e clandestinamente por aí em qualquer parte do mundo, da Europa, em Lisboa. O Carlos vai ser o convidado da próxima tertúlia que decorrerá no sítio do costume, na Fábrica de Braço de Prata, no Sábado dia 12, às 15 Horas. Apareçam.