As tertúlias de agora não são muito diferentes na sua essência das tertúlias do passado. As motivações que levam as pessoas a sair do seu canto para se reunirem com outros mantêm-se; as diferenças, quando existem, terão hoje mais a ver com os anseios do espírito do que com necessidades materiais. A haver diferença será na importância e no uso que damos ao tempo.
Por via da natureza humana, que fez de nós uns individualistas convictos, só as carências nos levam à socialização. Antigamente, as reuniões eram a única forma de trocar ideias e de debater e resolver problemas e por isso assumiam um carácter decisivo que foi sendo perdido para os outros meios de comunicação criados à medida dos homens e dos seus interesses.
O uso do tempo continua a ser, digo eu, a questão fulcral da qualidade de vida. As solicitações que nos tentam, a carga de trabalhos em que nos metemos, as complicações e problemas que arranjamos por culpa própria, e mais tudo o que “inventamos” para nos preocupar, retiram-nos tempo para o descanso e o lazer. Hoje, ter tempo para estar à conversa sobre temas não directamente ligados ao trabalho, pode ser considerado um indicador de qualidade de vida, e de higiene mental.
As tertúlias literárias reúnem pessoas que gostam de ler e partilhar ideias sobre livros, autores e tudo o mais que vier junto. A nossa tem servido para isto, para nos vermos e conversarmos e pelos vistos e ouvidos, nós, os tertulianos, temos gostado de lá estar.
A próxima vai ser um pouco atípica porque a presença do Ricardo Araújo Pereira, nosso convidado, atrai gente que o segue para todo o lado… até para uma tertúlia literária. No entanto depende de nós, tertulianos, não deixar que aquilo se transforme numa sessão do clube de fãs do “gato”. É óbvio que contamos com a ajuda do Ricardo, que sabe como poucos lidar com a fama e saberá certamente melhor que nós lidar com o “público”, contribuindo para a prossecução dos nossos objectivos: passar uma tarde agradável, à conversa, a pretexto de um livro, um tema, ou sobre o que nos apetecer.
