domingo, 2 de março de 2008

ENTRE PALAVRAS E BLOGS

São centenas as razões que nos levam a escrever, todas elas válidas. Para mim, as mais importantes prendem-se com duas necessidades eternas desde que o homem tomou consciência de si próprio: a) a de registar memórias, podendo assim comunicar com as gerações vindouras que não vai conhecer; b) preencher os buracos da solidão. Comunicando, deixando memórias registadas ou simplesmente evitando a tirania da solidão, os homens escrevem, e no acto da escrita acabam por se libertar de si próprios, isto é, alcançam patamares de existência exteriores à sua condição de simples mortais.
As últimas décadas têm vinda a registar um desenvolvimento acelerado da tecnologia, um ritmo dificilmente acompanhado pela humanidade, pelo menos no seu pleno. A leitura, o hábito de pegar e transportar os livros ficou irremediavelmente ameaçado de extinção com a chegada dos computadores, a Internet e por aí fora. Tal como noutras ocasiões, o cinema matava o teatro, a televisão matava o cinema e a rádio e vídeo killed the rádio star. O que aconteceu foi que ninguém acabou por matar ninguém, as formas de expressão e criatividade é que aumentaram, aumentando consigo o leque de escolhas ao cidadão comum. Continua a haver teatro, rádio, cinema, televisão, fotografia, … continua a haver livros. E pessoas que não prescindem do prazer da leitura, da escrita, do toque arrumado da mão num livro.
Com a explosão tecnológica foram vários os hábitos e as dimensões de trabalho e entretenimento abertas aos nossos dias. Num deles, num volte-face pouco improvável, a vontade de escrever e ler textos veio ao de cima em grande força. Pessoas de todos os quadrantes sociais e intelectuais resolveram registar através da palavra escrita, textos, diários, cadernos de rascunho, informações etc, etc. A blogosfera surgiu assim enquanto espaço universal e de utilidade permanente, onde sem se conhecerem materialmente, milhares de pessoas abriram várias janelas de comunicação entre si. A literatura, ou o exercício e partilha da palavra escrita ganhou com as novas tecnologias uma nova e improvável forma de expressão que hoje em dia se tornou uma evidência. Poetas, escritores, homens comuns unidos pelo amor às letras e às histórias exploram agora em silêncio um novo mundo com antigas ferramentas. Estamos ainda longe de avaliar o impacto dos blogs no ressurgimento dos hábitos de leitura dos cidadãos. Estamos no entanto à vontade para dizer que se ganhou um novo fôlego, de força concreta e projecção adquirida. As solidões juntaram-se e, em vez de o fazer à volta da fogueira, fazem-no à volta do espaço virtual. Um filme novo onde os verdadeiros protagonistas são as palavras, as histórias e as emoções. As pessoas os pequenos deuses desse mundo.
Assim seja.
ARTUR

1 comentário:

redjan disse...

Irra Art .... assim escrito .... entende-se melhor !!